Comentário ao livro Notas de Um Provável Leitor: A Auto-Educação como Emancipação da Mente Humana, de Gilvan Monteles



Dimas Márcio Oliveira Trindade

Segue abaixo o meu comentário publicado no livro Notas de Um Provável Leitor: A Auto-Educação como Emancipação da Mente Humana, de Gilvan Monteles, disponível para a compra no site da Amazon.

Entendo que o homem se difere dos outros animais não apenas por propriedades físicas. Há em nós algo muito mais complexo e sublime que uma série de instintos naturais irrefletidos que dirigem um amontoado de células. Mesmo que não se assuma de pronto — como muito ocorre atualmente —, sabemos que somos muito mais do que meras coisas dotadas de movimento.

Sendo mais breve e claro: esse "tempero" que dá um sabor mais sublime e elevado ao ser humano pode ser o que Platão chamava de Elemento Racional da alma. Esse elemento nos leva a considerar, em nossas ações cotidianas, em nossas vidas, algo transcendente, valioso, que supera o aspecto meramente material da realidade. Denominaremos isso de Humanidade — sim, um substantivo próprio!

Seguindo por esse caminho, a educação deve ter como seu principal objetivo, o aperfeiçoamento da Humanidade. A educação tem, portanto, um fim elevado, que vai além de uma perspectiva apenas prática. Observamos esse fato no início deste livro, quando o conto A aposta, de Anton Tchekhov, é citado. Essa citação ocorre justamente no primeiro capítulo do livro porque é essa perspectiva elevada da educação, o principal alicerce, a base de todo este trabalho de Gilvan Monteles. Esse é o ponto de partida do livro.

Infelizmente o que temos, pelo menos no Brasil atual, é uma distorção do significado e do objetivo verdadeiro da educação. Hoje, a educação tem, ao contrário do que dissemos, objetivos práticos, desprezivelmente materiais. Ela foi reduzida a um meio, ou para gerar emprego e lucro, ou para promover um fim político-ideológico. Por um lado, uma indústria de exames, provas nacionais e de concursos públicos. Por outro, pedidos gritantes por mais investimento (dinheiro proveniente dos impostos pagos por quem trabalha honestamente) na educação, para a má formação politizada e centralizada da juventude. O autor não só tem consciência dessa situação deplorável, como a sente na pele, por isso afirma: "Profissionalmente professor, pessoalmente sou apenas um estudante que percebeu o fracasso de sua formação na escola e na faculdade de filosofia [...]".

É claro que a educação, no seu sentido original, promoveria uma melhor organização e funcionamento da sociedade, não podemos negar. Mas, neste sentido, o que deveria ocorrer é a formação individual de seres humanos aprimorados, a exemplo do conto A aposta. O que vemos, infelizmente, é um sistema centralizado, compulsório e, por isso, naturalmente anti-Humano, que propõe às vítimas involuntárias um emprego e uma renda alta, ou um sistema político "ideal". "O Estado Moderno é o todo poderoso que decide como o homem deve viver, é o revelador de destinos". O que temos, tragicamente, é um sistema que transforma os homens em peças no corpo da sociedade. Os homens passaram a ser considerados apenas em seu sentido prático. A tal da Humanidade, de que falávamos, parece não estar no processo educacional ou, se estiver, está tão somente porque caem questões sobre ela na prova — após o preenchimento do gabarito, pode ser guardada na gaveta.

Este livro é uma espécie de resgate da educação, uma tentativa de reminiscência, de um retorno ao sentido original e valioso da educação. Ele é escrito por uma vítima da educação deturpada dos dias de hoje, é a carta de alforria de um ex-prisioneiro, que se dirige aos que ainda estão encarcerados por esse sistema educacional nefasto.

Gilvan mostra sua grande competência como autor e, ênfase, professor. Os três primeiros capítulos, Educação: problemas e possibilidades, A educação liberal como emancipação da mente humana e A escola não é lugar para obter educação, são como uma primeira dose do remédio; procuram despertar, indicar o caminho da verdade. Enquanto os posteriores, O trabalho intelectual, A leitura como instrumento da aprendizagem, Como ler filosofia, Como ler romance, Sintópica: o além-homem em Raskólnikov e Zaratustra, O poder dos livros imaginativos e O método trivium, são uma espécie de guia para esse caminho. Primeiro Gilvan aponta e explica o que deve ser feito, em seguida ele mostra, de forma clara e sincera, como se faz.

Por fim, gostaria de agradecer ao professor Gilvan por ter me proporcionado esta bela leitura, por ter me concedido a honra de publicar aqui minha análise — uma análise limitada, sim, mas devidamente honesta, asseguro — e por todas as respostas e conselhos que me foram tão atenciosamente concedidos desde o dia em que nos conhecemos. Espero que este livro ecoe em nossa sociedade, por sua qualidade e, acima de tudo, pela necessidade que há.

Dimas Márcio, Brasília, 18 de agosto de 2019.


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