Um intelecto carente de misericórdia


 Dimas Márcio Oliveira Trindade

Escrevi esta confissão há algumas semanas, enquanto me sentia incapaz de escrever — incapaz em dois sentidos, um bom e um aparentemente ruim. Primeiro, porque sei que a pausa que estou dando é perfeitamente necessária e a vida já me provou isso. Segundo, porque não conseguia. Achei interessante quebrar brevemente meu silêncio com este simples e sincero texto de confissão.

Sinto-me burro para escrever. Não que não fosse consciente de tal fato antes, mas agora encontro uma dificuldade maior em escrever. Não é mais como há alguns meses, quando escrevi algumas coisas boas e proveitosas — o que fora um milagre, para um ignorante como eu. No entanto, eis o termo chave para isso: milagre; ação ou intervenção divina, que transcende e supera os parâmetros lógicos e temporais. Se fiz algo de bom em minha existência, fora um milagre. Um milagre, motivado da compaixão de um Deus por uma pessoa fraca e incapaz, como quando Cristo fazia um coxo andar ou um cego ver.

O próprio Cristo diz a Pilatos que poder nenhum este teria sobre Ele, se do céu não o fosse concedido. Bem ou capacidade nenhuma eu tenho, se não for produzido pela compaixão celeste. Eis, neste momento de incapacidade, a sempre bela verdade: eu não sou nada além de fraqueza, de medos, de tropeços, de injustiças, de objetivos sempre pendentes, de atrasos, de murmurações. E eu não poderia guiar a minha vida em nome de mim mesmo. Então as palavras de São João Batista me dão um alívio ante a possibilidade de sentido para vida e desespero ante a minha incompetência para com tal sentido: é necessário que Ele cresça e que eu diminua. Essa sentença gloriosa responde o meu drama particular de uma forma que eu não consigo transcrever.

Enfim, faça-se a Tua vontade, como oramos no Pai Nosso.

Comentários

  1. Simplesmente humano, são suas condições, deu espírito. Faça das suas condições e do seu espírito o seu próprio método para escrever.

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