O pobre lenho seco



Dimas Márcio Oliveira Trindade

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?", questionava-Se o Filho de Deus do alto de uma cruz, moribundo e desolado. O sofrimento de Cristo nos dá, dentre infinitas coisas, uma imagem de nossas misérias passadas, presentes e futuras. Ele próprio nos alerta, enquanto caminhava para a morte: "Então dirão aos montes: caí sobre nós! E aos outeiros: cobrí-nos. Porque, se fazem isso ao lenho verde, que acontecerá ao seco?" (Lucas 23:31). Se há motivos, portanto, para dizermos: ai Dele! Muito mais há para dizermos: ai de nós! Para nós, as palavras do beato Tomás de Kempis fazem muito sentido: "O viver na terra é verdadeira miséria." E é isso que a humanidade testemunha desde sua origem. Morte, sofrimento, angústia, incerteza, injustiça, tudo isso nos soa familiar ao longo dos séculos.

Mesmo que se negue, somos fracos e miseráveis. E, diferentemente de Jesus, os males de que padecemos harmonizam-se com os males que praticamos. Como disse São Dimas, crucificado ao lado de Cristo, alegando a inocência deste e constatando a sua culpa e a de outro condenado: "Para nós isto é justo, recebemos o que mereceram nossos crimes (...)" (Lucas 23:41). Não é injusto que Deus nos puna por todas as nossas blasfêmias, pela nossa indiferença, pela nossa incastidade, pela nossa hipocrisia, pelo nosso pecado de cada dia. Somos o lenho seco, inflamável, com disposição natural para ser queimado.

Mas vejamos que São Dimas, logo após constatar a justiça de seu padecimento, é perdoado e tem sua alma salva por Jesus Cristo, que lhe diz: "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso." (Lc 23:43). É necessário, portanto, compreendermos nossa miséria moral e espiritual e aceitarmos a nossa cruz. Tenhamos fé no nosso arrependimento e no perdão de Deus, e alcancemos a nossa redenção. Pois todo o sofrimento de Cristo fora para salvar-nos; o Justo pelos injustos, como bem constata São Pedro em sua epístola.

Tenhamos em mente a infinidade de nossos pecados, a infinidade de males a que estamos sujeitos, o sofrimento de Cristo para nos salvar de nós mesmos, e a Infinita Misericórdia Divina que ocasionou o sacrifício da cruz. Esses quatro elementos devem nortear nossas almas em nossa passagem debaixo do sol e em tudo o que nos acontecer.

E aqui vão palavras de Fé e Esperança, escritas na epístola universal de São Pedro: "Cingi, portanto, os rins do vosso espírito, sede sóbrios e colocai toda vossa esperança na graça que vos será dada no dia em que Jesus Cristo aparecer." (1Pedro 1:13). Arrependidos por nossos pecados e guiados pelo amor, como Cristo nos ensina, estaremos seguros, estando sentados num sofá ou pregados numa cruz. Sejamos penitentes, lembrando do quanto desonramos a face de Deus, do quanto blasfemamos ao tentar moldar Cristo aos nossos caprichos ideológicos, do quanto desprezamos nossos semelhantes e roguemos para que mais uma vez a Infinita Misericórdia Divina nos socorra.

Comentários